Tenho a certeza que há pais perfeitos.
Os quais se levantam cedo da cama, a tempo de se preparar tranquilamente, beber un café enquanto lêem o jornal, depois de terem feito meia-hora de desporto. Que aproveitam o levantar cedo para admirar as estrelas que brilham ainda no Céu e, quiçá, aproveitar para ir acordar o/a mais velho/a para que ele/a veja as estrelas também. E talvez um pequeno quarto de hora de meditação, se houver tempo - e claro que há, pois são organizados, e claro está, perfeitos.
E aí sim, depois de estarem bem acordados e muito bem dispostos, vão acordar os herdeiros. Quase de certeza, com uma música suave e um despertador simulador de aurora (sim, sim, isso existe). Eles - os herdeiros - acordam de bom humor, o cabelo já bem penteado, vestem a roupa que foi escolhida antes de se deitarem na véspera. Tomam um pequeno-almoço completo, com pão acabado de fazer, sumo de fruta fresca e leite biológico. Os lanches ja estão prontos na mochila, assim como o saco para a actividade extra-curricular da tarde.
Tudo se passa na calma, ordem e boa disposição. Talvez tenham um tempinho para avançar uns quantos movimentos no jogo de xadrez que dura desde uma semana.
E quando está na hora de ir para a escola / colégio privado, escolhido ao dedo e depois de ter passado uma entrevista exclusiva com o director (que é de facto, um amigo de infância de um amigo da família), as crianças preparam-se tranquilamente e esperam à porta que os pais terminem também eles de se preparar para sair, enquanto conversem entre eles sobre um assunto altamente filosófico ou sobre a actualidade política. Instalam-se no carro (também ele escolhido a dedo!), sem problema algum. Ou vão a pé para a escola. Ao portão, um beijo de bom dia, um sorriso, e as crianças vão juntar-se aos seus colegas de escola, com os quais vão continuar a falar da actualidade política.
Isto NÃO é o que se passa em minha casa.
Sobretudo esta semana, com o fim dos horários de trabalho. Ainda me estou a adaptar, e claro que eles também.
O levantar é um pouco aléatorio, dependendo o meu degrau de cansaço e da hora a que me deitei ontem. Não é um bom sistema, mas é assim. Um duche rápido (mesmo mesmo rápido, só para acordar). Entretanto já abri a porta do quarto deles para começarem a acordar. 3minutos depois, saio da casa de banho, e eles não mexeram nem um dedo. Volto a dizer que é hora de acordar. Um deles resmunga. Acendo a luz e digo mais forte "é hora de acordar!!". Visto-me rapidamente e ainda a apertar o cinto vou de novo ao quarto deles, e volto a dizer, que é hora de acordar. Isto pode-se passar entre 5 a 20 minutos até que eles se dignem a levantar-se. Mais o vestir. 'Não quero a camisola com este boneco', 'quero ir à escola assim' (mangas curtas, portanto)', 'Não quero estas calças', mais um fiado de outras cenas semelhantes.
Pequeno almoço. Cereais, leite, sumo de fruta (esta é a versão quando temos menos tempo). Sirvo-os 'Não, eu quero servir-me sozinho!!'. Pensar que é importante também aprender a independência, mas agora não há tempo nem pachorra. Dizer-lhes que temos pouco tempo para o pequeno-almoço, que temos de nos despachar. Eu acabo, digo-lhes que têm que acabar também, que já estamos atrasados para a escola. Primeiro choro do Gabriel, que não comeu quase nada porque estava a olhar para as moscas. O Alexandre acaba, digo-lhe para se levantar o ir pôr o casaco. Eu ponho os sapatos, o casaco, lavo os dentes. O Gabriel continua a chorar diante os cereais. 'Porra pá, pára de chorar e aproveita para comer, não?' O Alexandre está pronto, mas não vi que ele tinha decidido pôr os ténis com atacadores. Que ele não sabe atar. Gabriel sai da mesa, e ponho-lhe o casaco. 'Não quero as luvas, nem o gorro!' (o cachecol ficou esquecido ontem na escola). Maravilha. Estamos prontos. Abro a porta para sair, o Alexandre fica em casa porque quer fechar o casaco. Claro, mas podes andar ao mesmo tempo, não? Continuo a ralhar com eles nas escadas, óptimo, agora toda a gente do prédio sabe a mãe imperfeita que eu sou.
No caminho da escola (a pé) vejo que temos menos de 10 minutos para chegar à escola. O caminho faz-se em 5... se não se parar. O Gabriel chora, diz que tem frio. Pois, por cá, de manhã ja faz frio, lá para os 3°C. Normal, estamos em Novembro. E é melhor de sair de casa com casaco, gorro, luvas e cachecol. Que ele não quis pôr. Ponho-lhe o gorro do casaco, que funciona como um gorro qualquer. Mãos no bolso, mas anda mesmo assim. O Alexandre, tem uma aversão impressionante de andar ao meu lado. É coisa de andar ou a 2 metros diante, ou a arrastar os pés atras de mim. O Gabriel chora, que agora porque quer parar e descansar (só se passaram 3min desde que saímos). Suspiros, muitos suspiros. Acabamos por chegar à escola, ufa. beijinho cada um, passa um bom dia.
E agora que estou em casa, estou para aqui a pensar que sous de facto uma mãe imperfeita. Mas é assim que sou. Estou em construção, ao mesmo tempo que eles. Mas gosto de imaginar que um dia, o acordar por cá será um momento doce e sereno, e não um corrida contra o relógio. Talvez quando eles tiverem mais de 20 anos e já tiverem saído de casa!