30.06.08
Vazio
Sem Asas
Vazia.
Sinto-me tão... vazia. Cheia de nada. Como um espaço enorme que cabe todo dentro de mim, ocupando espaço mas não me preenchendo. VAZIA. Esta na hora.
Abro os olhos, a sensação continua, mas esta prestes a mudar. Hoje vou assumir aquilo que sou, aquilo que nasci para ser. Esta noite, não me escondo, não esta noite. Lentamente, começo a mover o meu corpo. Esteve imobilizado demasiado tempo, deixo a pouca vida que conservei no centro de mim correr pelos meus músculos, prepará-los para mais uma caçada. Deixo a excitação tomar conta de mim, mantendo-me sempre no controlo. Com a vida a retornar ao meu corpo, sinto os meus pulmões encherem-se de ar, e retomo o ritmo ancestral. Vida.
A vida corre mais uma vez em mim, estou pronta.
Saio do meu esconderijo com cuidado, como qualquer predador que se preze. Deixo o meu corpo acostumar-se à temperatura exterior, o ar que respiro traz-me milhares de informações que o meu cérebro ainda entorpecido analisa. Deslizo pelas sombras das árvores, o vento é meu aliado e o bosque já me conhece. é o meu velho e único amigo. Chegando à linha divisória entre o meu mundo e o mundo dos Outros, deixo-me ficar na sombra, enquanto o meu corpo assume a forma que lhe convém.
Os Outros... sinto uma espécie de desprezo por eles. Aquilo que me faz viver, o que me renova corpo e sangue é tido como garantido por Eles. Não cuidam deles, deixam-nos por aì, vagabundeando entre os detritos acumulados nas suas mentes feias. São Esses, os descuidados, que se me entregam.
O vazio remexe-se em mim, como uma besta sedenta de sangue.
Alguém aparece, num passo vacilante. Posso ler nele como num livro aberto, esta preparado para se me oferecer em sacrifício - sera o meu Primeiro. Aproxima-se de mim, atraído como um marinheiro por uma sereia. Não consegue evitar, já esta sobre o meu domínio. Saboreio o sabor dos seus sonhos a entrarem em mim como um liquido quente e viscoso e delicioso, enquanto Ele pensa que se aproveita de mim. Pobre Coitado...
Deixo-o partir, vazio de tudo. Não se da conta, Eles nunca se dão conta. é por isso que continuam a vir e nunca deixarão de o fazer. Bebo-lhes os sonhos que já não utilizam, e mesmo assim Pobres Coitados continuam a viver uma vida que não tem qualquer sentido. Os sonhos são para mim alimento, vida, corpo e sangue renovados.
Recolho-me nas sombras, enquanto espero pelo próximo. Esta noite, é noite de abundância. Depois, irei para a minha toca, saciada. Para ai saborear cada sonho, cada imagem. O meu corpo adormecera ao ritmo da natureza, mas voltarei a acordar, com fome, com o vazio.
E Eles continuarão a vir e nunca deixarão de o fazer. Pobres Coitados não sabem. Se seguissem os seus sonhos, eu não teria qualquer poder sobres Eles... Pobres Coitados... Se soubessem.